
O que tem o dia da mulher e o Neon do “Welcome to Fabulous Las Vegas” em comum?
Têm a Betty Willis.
Corria o ano de 1959 uma conturbada época nos Estado Unidos, com as lutas pelos Direitos Civis e figuras como Rosa Parks, Martin Luther King ou Malcolm X a dominarem a cena sócio-política do país, numa luta por igualdade.
Os direitos das mulheres não era sequer um tema forte ou sequer tema nestes anos.
As mulheres tinham o seu papel na sociedade e a ele se resignavam.
A cidade de Las Vegas, cuja história muito interessante pode ser aprendida no Museu do Neon, é conhecida pelo jogo e pelas origens ligadas à Máfia. Mas esta cidade é muito mais que isso. Mas já levantamos um bocadinho mais este véu.
O nosso tema de hoje é a mulher, Betty Willis.
Betty nasceu em 1924, a mais nova de 8 filhos.
Os seus pais tinham chegado à região numa carruagem puxada a cavalos, em 1905, quando os primeiros brancos colonos aqui vieram para se instalarem usufruindo dos leilões de lotes de terra feitos por William Clark, que levaram à criação da cidade.
Já agora, os casinos começaram a ser construídos na terra contígua a Las Vegas que dava pelo nome de Heaven, porque os lotes eram mais econômicos.
Betty tinha uma paixão por design e foi estudar para Los Angeles. Já na altura esta região - o Estado da Califórnia usufruía de alguns privilégios, muito alavancados por Hollywood, que noutros estados foram conquistados muito mais tarde.
Voltou para Las Vegas onde desenhava anúncios para os jornais, de Showgirls. Continuou o trabalho de design transitando para o desenho de sinalética em neons.
Nesta altura era um negócio de homens num mundo de homens. Mulheres designers existiam poucas e estavam imensamente espalhadas em território, diminuindo ainda mais a sua influência ou importância.
Desenhar neons não era uma tarefa fácil. As funções de homens e mulheres eram bem definidas. A parte técnica que envolvia criar um neon não estaria na esfera de interesse da maior parte das mulheres, que eram destinadas a tarefas menos masculinas. A componente técnica de voltagem, pontos de pressão, capacidade dos neons e bolbos e contacto com os engenheiros e artistas não faziam parte deste mundo feminino.
Foi Ted Rogich um empresário local, que em 1952 a abordou e desafiou para a criação de um neon chamativo e impactante que desse as boas vindas à cidade, a quem a visitava.
Las Vegas tinha um sinal para tudo menos para si mesma.
A produção de néon é uma arte de trabalho de vidro. Este é curvado e depois cheio de gás. Cada um é único e o processo mais dispendioso foi substituído por processos mais industriais e económicos como os Leds.
Os letreiros de Las Vegas utilizam milhões de lâmpadas e 15.000 milhas ou 24.140 Kms de tubos, o suficiente para cobrir os Estados Unidos cinco vezes de costa a costa. De facto, o brilho da cidade é tão poderoso que é visível do espaço.
Este néon em específico tem algumas particularidades.
A forma em diamante torna-o automaticamente diferente dos restantes sinais da cidade. Numa alusão ao nickname do Estado de Nevada - o Estado da Prata, as 7 estrelas da “silver dollar” perfazem as 7 letras da palavra Welcome.
Em 1959 o sinal ficou finalizado e pelo trabalho Betty aceitou 4.000 USD afirmando que era uma oferta sua à cidade e aos cidadãos, não tendo exigido direitos pela sua criação, razão pela qual este sinal é reproduzido por quem o desejar.
O letreiro foi escolhido como símbolo de Las Vegas na comemoração dos seus 100 anos de existência.
Willis continuou a desenhar e a trabalhar até aos 77 anos, fazendo igualmente o conhecido néon do Moulin Rouge.
Mas sem dúvida que é o Néon do “Welcome to Fabulous Las Vegas" a marca de uma mulher que pelo trabalho que fez, vingou num mundo de homens e ombreou com os melhores designers masculinos do século XX num país tão imenso e de grande importância como os EUA.
No “Neon Museum”, percorra as suas ruas de areia, ladeadas pelos caídos néons de casinos que fizeram a história da cidade. Cada néon conta uma história e no seu conjunto contam a história da cidade de Las Vegas. Histórias da Máfia, do primeiro proprietário de casinos não mafioso mas algo louco, do Casino Sahara que permitia a entrada de negros e nativos americanos e que pelo sucesso que tinha, foi obrigado a fechar. Até ao arquitecto do edifício do Museu - La Concha, negro e que desenhava do lado oposto da mesa porque os demais arquitectos eram brancos. Las Vegas, permitia ainda que os divórcios fossem tão fáceis de realizar como eram os casamentos.
Welcome to Betty Fabulous World.